domingo, 3 de julho de 2011

Nascimento da Tragédia (ou Helenismo e Pessimismo)

Dupla face. Polarizada. Uma parte de mim impulsiona. A outra me segura, me agarra me crava os dentes num gesto de repressão. Meus cabelos estão empoeirados como a cristaleira da sala. Ele está sem coragem de me olhar. Vou insistindo, o garçom me serve com um sorriso - mas não é esse sorriso que me atinge- continuo indiferente aos olhos do da humildade. Uma mulher de saia entra e senta, seu acompanhante grisalho não pára de me aplicar olhares pelas costas dela. Eu não entendi! (nunca fui de entender olhares disfarçados).Engraçado...Pareciam tão felizes os dois. Um súbito desânimo me contagia -não conheço a música que o cara da guitarra está tocando. Odeio quando não conheço. Por fora, tento dissimular tudo. Bom trabalho. Examino minhas unhas vermelhas e curtas contrastando com o forro amarelo da mesa.O garçom traz a conta. O cara da guitarra toca mais uma, mais outra e mais aquela. Entre um 'boa noite' e um 'obrigado', ele parece tão ausente. E eu tão ali, acompanhando Light My Fire com os lábios. Naquele momento me senti mais equilibrada: a minha metade apolínea fez as pazes com a dionisíaca. Por 30 segundos.

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