"Seus pais não se importam se você demorar pra chegar em casa [...]" É, só preciso sentir aquela chuva grossa molhando cada centímetro da minha pele morena-clara. Lágrimas de revolta ou paixão(?) se misturam as gotas da chuva torrencial perto da minha boca. Minha boca sente... ah se ela falasse. Se minha boca pudesse contar o que já sentiu. Ela já te sentiu. Mas a boca é apenas um instrumento. As emoções vão de brinde. E depois voltam pra me ferir. Desafio mais ainda a tensão das minhas costas, agora muito molhadas. A camiseta surrada do led zeppelin agora está encharcada, pregada no sutiã cor-de-rosa...Já tinha até esquecido a feminilidade duas ruas atrás, não estou no humor pra isso. Meus cabelos preto-avermelhados pingando água acompanham o movimento das pernas douradas que, caminhando trêmulas, já não se importam com os olhares dos caras sentados na calçada. A chuva engrossa mais, meu mp3 provavelmente vai estragar... Mas não dá, sem música não dá, sem música eu não choro. Ou até choro, sem sofrer. Cansei de buscar atalhos com essa água suja nos pés. Estão gelados e dormentes. Cansei de andar nas ruas cheias de poças da 114 norte. Vou voltar... Além disso, a playlist já está repetindo tudo pela segunda vez. Tenho comigo só as lágrimas que caem do céu, pois as minhas secaram.
O que me faz chorar são notas musicais. O que faz o céu chorar?